Deixe a luz passar!

Deixe a luz passar!
Fiat lux!!!

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Quase vinte e oito anos!!!


Que eu não sou muito convencional, isso quem me conhece sabe bem. Meio sem pavio, falo o que penso nas horas em que me calar talvez fosse uma melhor estratégia. Mas, concordo com a Paula Barros, tem hora que certas falas não coadunam com a verdade, e se eu me calar, é como se me arrancassem a alma, a própria vida e aí eu estaria avalizando a imbecilidade, a minha própria, por nada fazer, nem ao menos tentar.

É com esse comportamento, que não sei distinguir se é sentimento situacional ou demência mesmo, que tenho sobrevivido esses quarenta e nove anos.

Bem, mas quero falar mesmo é dos tais quase vinte e oito anos. Casei-me com uma mulher metade japonesa, um quarto brasileira e um quarto italiana. Amor à primeira vista, desses que se não emplacar o cara fica metade pelo resto da vida.
Emplacou. Tem havido altos e baixos, tempestades tropicais e subtropicais, nevascas, ciclones e “otras cositas más” em nossas vidas, mas temos sobrevivido com alguma dignidade, ainda.

Sou meio racional, digo meio porque não consigo planejar. E só porque planejei tenho que matar a emoção. É um problema isso. Se intuo o contrário, mudo de rumo rapidinho e o combinado já não vale mais. Acho que é instinto de sobrevivência o nome disso, é assim que entendo.

Bem, casamos. Ela com seus cinco meses de gravidez, dezessete anos. Cheia de orgulho e vazia de experiência. Eu, do alto dos meus vinte e um anos era totalmente imaturo, um menino. Tudo acertado pelas circunstâncias para culminar com um tremendo caos. Crianças sem juízo.

Não há senso em começar assim e continuar caminhando achando que as coisas se acertam por si só. Mas, acreditem ou não, tem sido assim. Está dando certo. Claro que a paciência e tolerância orientais são o que faz o fiel da balança manter-se equilibrado.

Mas aquela gravidez continuava em curso. E aí é comum planejar e buscar nomes, idealizar sonhos e tudo que, quem já passou ou passa, sabe como é. A escolha do nome é coisa séria, pensávamos. Então, vamos escolher o nome. Depois de passar por várias opções, empacamos em dois deles: Mayara e Talita. Que dificuldade. Chegamos à conclusão que Talita era o nome. Acertamos, fizemos juras disso e daquilo, mas o nome estava decidido, já não era um problema.

Dia treze de outubro de mil novecentos e oitenta. O dia D-1. Noite de primavera, muita chuva no cerrado. Muito sono. Muita dor e uma mulher tentando dizer que algo não estava bem. O sono era pesado demais. O medo e a insegurança mais ainda.
- Dorme, dorme que isso passa logo. Não passava. E não passou.
Pela manhã, dia D, portanto, visita ao médico. Veio a constatação óbvia: você está em trabalho de parto. Vamos para o hospital que já vai romper a bolsa.
Fomos. E não é que o médico estava certo. Algumas horas depois nascia uma menina com dois probleminhas, segundo o pediatra. Bem, pais e mães sabem o que isso significa. Quase desabei, mas perguntei:
- Doutor quais são os probleminhas?
Ele:
- Nasceu sem dentes e careca.
Quase dei nele, mas relaxei e sorri. Era um brincalhão o Dr. Leles, ex-controlador de tráfego aéreo, também.

Ora, ora, então estava tudo bem. A criança bem, a mãe estava ótima, cabia a mim correr ao cartório e registrar a herdeira do reino do nada. Fiz meu papel direitinho. Registrei a menina. Agora tinha nome. Voei para o hospital, não antes de ligar para os amigos distantes, parentes próximos e falar de minha, de nossa alegria. Cheguei ao hospital e já fui mandando:
- Aí, registrei a menina, Salete.
Salete:
- Que bom. Botou o nome de Talita, como combinado?
Gelei. Sabia que tinha algo estranho, pois o nome não fechava bem aos ouvidos. Acho que com ar de surpreso, respondi perguntando:
- Era Talita que a gente tinha combinado?
Ela, a Salete:
- E não foi o nome escolhido, Tadeu?
Eu, com ar mais surpreso ainda:
- Ué, eu achei que era Mayara. Era Talita? Tem certeza?
Ela:
- Claro que tenho. Você registrou como Mayara?
Eu:
- É, botei Mayara. Fiz besteira, né?
A mãe:
- Não, tudo bem. Tanto faz, o importante é que está tudo bem, ela está bem, eu estou bem e amanhã saio daqui.
Calado, assenti com a cabeça concordando.


Mayara!
Dia quatorze de outubro de mil novecentos e oitenta, o dia em que eu saí do chão e andei nas nuvens pela primeira vez. Depois andei mais algumas vezes, mas isso já é outra prosa.





9 comentários:

  1. Que delícia de narrativa. A gente vai viajando juntinho nessa história linda. Imaginando todo o crescimento junto, toda a construção de um caminho juntinho um do outro, ganhando presentes.

    Prosa boa essa. Vale um bis. Vários bis.

    E eu fico aqui pensando em quase 28 anos vividos. Quanta flor não deve ter nesse canto. Bom passear por ele.

    Bjs!

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  2. Nossa que linda homenagem...
    A sensação de ser pai/mãe dever ser única mesmo....
    Ela tem minha idade, só q sou mais velha, sou de abril.
    Parabéns a ela e a vc por essa linda família

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  3. ...uma história qualquer, num lugar qualquer, num momento qualquer, diriam...

    mas não...
    não era uma história qualquer
    num lugar qualquer, num momento qualquer para Tadeu, Salete,
    e Mayara, que, naquele dia, naquele instante mágico cruzaram seus destinos firmando compromissos com a felicidade
    de se estar juntos num laço
    de ternura sem fim...

    assim é a família que já vem destinada por Deus.
    e felizes somos nós quando entendemos estes desígnios
    cumprindo-os com amor...

    lindo demais seu texto/homenagem
    à sua pequena menina (Talita) rs Mayara.

    parabéns pela sensibilidade...

    bjs...

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  4. Cometi a indelicadeza de não comentar o post.... desculpe-me.

    Divertido e interessante o post, fiquei me vendo na sua situação quando o bebê nasceu com esses 2 "probleminhas"... eu mataria o médico, rsrsrs

    Nessa hora ficamos mesmo muito, mas muito nervosos ...
    Lembro-me bem desta hora que tive a felicidade de viver por 2 vezes, grandiosa emoção.

    Abraços... e parabéns pelos quase 28 anos.

    Editor Imagens de Barbacena

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  5. É nascente. Esse belo texto é un encontro e tanto. Abraço

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  6. Meu caro, o Jardim agradece a sua passagem pelo mesmo, é sempre agradável vê-lo por lá.

    Olhe que essa sua narração... tem contornos por vezes hilariantes... mas deu tudo certo.

    Pela certa, o doutor levava cá um arraial... kkkk

    Abraço

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  7. é hoje! 28!!!

    é isso, texto bunito pra mayara bunita!!!

    entrei no seu blog no fds. fiquei surpresa e encantada. na hora quis escrever mil coisas. mas vc sabe, né pai, não sou tão boa amiga das palavras como você...

    mas qdo eu crescer e aprender a escrever bunito assim, vc vai ver!

    então, assim, tipo depois do bolo e guaraná:

    muito obrigada.
    amo vocês desde qdo eu era talita!

    um beijo dez elevado a 1000 procê tb!

    mayara
    www.flickr.com/photos/bazarfugitane) =D

    pai, eu sei que é bonito com "o", viu!

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  8. Adori o texto, seu primeiro vôo, e aguardo ler os outros. Me emocionei.

    Mas travei com um nó na garganta lendo a quase Talita, a linda e eterna Mayara, que deu asas ao pai, bunita que só, escrevendo aqui. Ufa! Que emoção.

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  9. Olá meu caro amigo e colega.
    Parabéns por deus ter dado essa família tão abençoada.
    Felicidades para vcs.
    Fiquem na paz e luz de deus.
    Que seus caminhos possam sempre ser de muita paz, luz e fé.
    Abraços amigo.
    Regina Coeli.

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