Deixe a luz passar!

Deixe a luz passar!
Fiat lux!!!

domingo, 25 de janeiro de 2009

Modéstia pouca é bobagem? Então...






    A bola cruzou o espaço com a força que lhe coube e começou a descer, cair. Caiu devagar, dando tempo ao atacante para fazer e refazer seus planos de vencer o goleiro.
    A luz do refletor impedia a visão total e clara da bola se aproximando. Mas sua capacidade de sentir sua aproximação era além do normal. Só pensava em como marcar aquele gol. Veio da direita, alta, decidida a consagrar um e a desmoralizar o outro. Voou leve, mas com o destino sendo traçado na velocidade da luz. Começou a descer, veio chegando e também o goleiro com seus seis metros quadrados a tapar todo o buraco das traves.
    O atacante pensou e não teve outra alternativa, senão esperar a aproximação máxima do goleirão Leandro, jornalista, apresentador do Jornal vespertino do SBT. Ambos, bola e goleiro não sabiam bem o que ia acontecer, mas o atacante desenhou tudo com suas ferramentas mentais e decidiu por tentar a ação menos esperada, a surpreendente jogada da consagração daquele sábado à noite dos anos noventa. O goleiro até hoje deve lembrar e sofrer. Não o culpo, foi genial.
    A bola se ofereceu calmamente após sua descida. Foi tocada pelo calcanhar direito contra o chão, passando por trás da perna esquerda. Na tentativa de abafar a jogada que ainda era mistério, o goleiro se traiu. A bola saiu do chão, descreveu um arco e encobriu o gigante Leandro. Pude vê-lo desolado, com cara de quem não acreditava no que estava acontecendo. Tentou em vão se curvar em arco e pegá-la. Ela, obediente ao toque magistral, se elevou ainda mais e começou a segunda descida. Agora, já sabia que cairia só, recompensada pela linda jogada, por ter abatido o Golias sem ao menos tocá-lo. Caiu na rede e escorregou para o chão indo repousar no canto esquerdo do goleiro.
    Foi o último lance da noite e o mais impressionante, sem falsa modéstia. Sério, pode perguntar pro Leandro, que hoje deve estar em Londrina.

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Diálogo é amor....


Gosto de perguntas e dou respostas que não estão prontas. 
Respondo segundo o contexto da pergunta, se não entendo, minha resposta pode ser uma pergunta.
Gosto de conversas, de prosa e de poesia.
Daquelas conversas que saem do íntimo dos neurônios e desembocam nos ouvidos.
Gosto do som da voz humana, do efeito que ela produz em meus sensores.
Do olhar dizendo o que quiser e o que não puder ser dito pela voz. 
Das mãos gesticulando naturalmente, tentando criar imagens e nos instigando a prosseguir descobrindo.
Dos odores que exalam do corpo e que falam uma língua que nos faz delirar e flutuar, imaginar e sonhar o realizável.
A língua universal é o amor.
O amor é criado pela vivência, nos sentidos conhecidos e nos não.
Portanto, os sentimentos nascem da compreensão e apreensão sensorial que a vida nos proporciona.
Não estão prontos, guardados para entrega imediata.
Têm que ser cultivados em meio à vida.
Quanto mais amor, mais vida, mais compreensão, mais sentimentos, mais amor.
É esse o ciclo.
Não se irrite, pergunte também.
Você compreende?

sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

Jabuticabas!!!


Não havia enigma.
A transparência das intenções não deixavam dúvida.
Mistério algum restava ali.
Tudo estava dito e bem dito.

Vi raios e trovões em grandes tempestades.
Vi calmarias e ventos brandos no mar daquele olhar.
Vi corredeiras a deslizar velozes naquele céu refletido.
Vi a dinâmica da vida naquele olhar florido.

Foi quando o filósofo disse que a dor chega, não importa quantos sorrisos tenham sido distribuídos ou guardados; é só uma questão de tempo.
Ele tem razão.

Mas, me pergunto se ele já viu as jabuticabas.



Três destinos!



Houve uma proposta de caminhada
Mantendo os trapos que já não cobriam a pele do frio.
Os estômagos rugiam ferozes da fome que já não tinha nome.
Os olhos não sabiam para onde olhar.



Por isso, nem viam o verde .
Só o marrom da terra que subia com cada ventania.
Não era possível falar, nem sequer lamentar.
A estrada era de degraus amplos.
E a cada passo um tropeçar.
E a cada tropeço um pedaço de dedo estraçalhado.
A parada era de cansaço pleno.
Não havia sono, era uma quase morte noturna e nem sempre era.
Às vezes, sem ânimo, era morte mesmo.
Duas mortes plenas a cada dia sem rumo.
As mãos queriam estar sempre unidas, se achavam até na distância.
Corriam e reconheciam topograficamente cada cicatriz herdada das pedras.
Os pés queriam parar, mas sem saber como, continuavam a ditar os passos.
E eles seguiam trôpegos.
Ele um dia perguntou qual seria o próximo passo.
Por não saber ou saber demais, ela respondeu não saber.
E por não saberem, continuaram calados e sem destino certo.
Agora só ostentavam as feridas nuas e cruentas.
Havia olhares de nojo e desprezo onde estivessem.
Mas por terem dito que continuariam, continuavam.
Não haveria quem os reconhecesse.
E ela o querendo sempre.
Ele não sabia qual era o propósito daquele querer.
Então, por ignorância, continuava.
O que queimava não era o sol de cada dia, senão uma dúvida cruel que ainda o acompanhava, só.
As peles já não se reconheciam pelo toque, só pela dor da falta.
Não havia taquicardia pela proximidade excessiva.
Por acaso os olhares se encontravam.
Então oravam juntos uma prece deles, só deles.
Na curva do cerro azul se separaram e se foram.




A chuva que caiu apagou cada passo 
e cada lampejo de memória.
Sobrei eu, que tento contar sua história de perguntas e vivências vãs, tristes.
Nunca mais os vi, desde a curva.
E já quase nem me encontro mais.