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A bola cruzou o espaço com a força que lhe coube e começou a
descer, cair. Caiu devagar, dando tempo ao atacante para fazer e refazer seus
planos de vencer o goleiro.
A luz do refletor impedia a visão total e clara da bola se
aproximando. Mas sua capacidade de sentir sua aproximação era além do
normal. Só pensava em como marcar aquele gol. Veio da direita, alta, decidida a consagrar um e a
desmoralizar o outro. Voou leve, mas com o destino sendo traçado na velocidade da
luz. Começou a descer, veio chegando e também o goleiro com seus
seis metros quadrados a tapar todo o buraco das traves.
O atacante pensou e não teve outra alternativa, senão
esperar a aproximação máxima do goleirão Leandro, jornalista, apresentador do
Jornal vespertino do SBT. Ambos, bola e goleiro não sabiam bem o que ia
acontecer, mas o atacante desenhou tudo com suas ferramentas mentais e decidiu por
tentar a ação menos esperada, a surpreendente jogada da consagração daquele
sábado à noite dos anos noventa. O goleiro até hoje deve lembrar e sofrer. Não o culpo, foi
genial.
A bola se ofereceu calmamente após sua descida. Foi tocada
pelo calcanhar direito contra o chão, passando por trás da perna esquerda. Na tentativa de abafar a jogada que ainda era mistério, o
goleiro se traiu. A bola saiu do chão, descreveu um arco e encobriu o gigante
Leandro. Pude vê-lo desolado, com cara de quem não acreditava no que estava
acontecendo. Tentou em vão se curvar em arco e pegá-la. Ela, obediente ao toque
magistral, se elevou ainda mais e começou a segunda descida. Agora, já sabia
que cairia só, recompensada pela linda jogada, por ter abatido o Golias sem ao
menos tocá-lo. Caiu na rede e escorregou para o chão indo repousar no canto
esquerdo do goleiro.
Foi o último lance da noite e o mais impressionante, sem
falsa modéstia. Sério, pode perguntar pro Leandro, que hoje deve estar em
Londrina.