Deixe a luz passar!

Deixe a luz passar!
Fiat lux!!!

quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

Humildade?




Tua grandeza será tão maior, quanto mais consciência tiveres de tua pequenez.


segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

A Data!

Caros amigos blogueiros, não me tomem como um insensível diante de data tão importante para o mundo ocidental e cristão. Mas, tenho que dizer o que penso. É minha identidade.
Tento não agredir outras culturas e crenças. No entanto a vida tem mostrado que essa tarefa é das mais difíceis, senão impossível, dadas as várias formas de interpretação proporcionadas por essas culturas e crenças, as quais também estou afeto e sem contar o mundo mercantil que nos move a todos.
Hoje recebi várias mensagens de bons votos de Natal e Ano Novo. Fiquei sensibilizado com todas, porque demonstraram a lembrança de que nossas almas se encontraram e se identificaram de algum modo. Então, eu pensei em postar uma mensagem que falasse um pouco do modo como penso e ajo em minha vida, contando o tempo intra-uterino, de mais de meio século de existência.
Não dou muita importância a essas datas, penso que são apenas marcadores temporais. No entanto, se é nesse período que boa parte da humanidade se concentra em querer bem e anunciar isso abertamente ao mundo, não serei eu a ir contra jamais, mesmo achando que podemos e devemos fazê-lo durante todos os dias de nossa existência. E podemos mesmo. Ontem, hoje e sempre.
Ora, não posso perder a oportunidade de dizer o que já disse de modo resumido a alguns. Por isso, vou me lembrar de fragmentos de nossa relação nesse mundo virtual. Não pretendo citá-los, mas sim, de maneira geral dizer o quanto me sensibilizaram suas manifestações de atenção.
Minha primeira postagem fez com que a Lana, uma amiga virtual bem real, comentasse e me indicasse a ler no Jardim de Urtigas, de um amigo seu. Fui e gosto muito de ir, já te disse, não é Carlos? Ao chegar lá me deparei com outros que visitei sem convite, mas fui bem recebido e acabei me aconchegando ao lugar e às boas prosas e poesias muitas, as quais levaram a outras. Com alguns travei mais contato e trocamos bons momentos em mensagens fora dos blogs. Compartilhamos um pouco de nossos momentos pessoais e privados, como bons irmãos e irmãs. Em um momento apenas senti-me indignado e ecoei minha indignação, talvez fruto do momento de tensão a que todos de um modo ou de outro tenha sofrido nas circunstâncias impostas. Penso que tudo possa ser revisto e a qualquer tempo, somos todos lados de uma mesma moeda.



Estamos todos espalhados por esse mundão, como agulhas em palheiro, mas conectados pelo coração!

Agradeço o carinho e a atenção que dispensaram a mim e ao que ousei escrever. Peço a todos que, em nossas crenças religiosas, dispensemos, em particular, uma oração, mentalização, meditação, o que quer que seja, à Regina Coeli, Deusa Odoiá, pois foi postado em seu blog que ela se encontra hospitalizada. E, também, que direcionemos nossos melhores pensamentos à paz que em nós habita, para a construção do que melhor pudermos oferecer ao outro e à nave Terra.
Essa é a mensagem de fim de ciclo que deixo aos amigos e a tantos quantos venham a lê-la.



Spera e sua linda família a me receber em um dia qualquer, de um ano qualquer, mas com a alegria de sempre.
Sinto-me desse jeito com vocês!

Um fraterno abraço em todos vocês, companheiros blogueiros e familiares.

Paz!!!

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

O silêncio!!!



O silêncio!!!

Lá fora tudo parecia perder a existência. O ar não se movia, estava denso e parado. Mas de uma maneira que eu jamais tinha notado. Era estranho mesmo. A luz do poste era sem intensidade, quase sumindo, como se algo ou alguém a sugasse lentamente, se alimentando dela na noite que adentrava ao dia.
Mesmo sem saber o que estava acontecendo, intuí que não era comum. Afinal, a vida se esvaía das coisas simples e pouco notadas no dia-a-dia. Abri a porta procurando as pessoas que toda noite se reuniam em baixo da monguba para suas conversas barulhentas, próprias dos jovens e despreocupados. Eles não estavam lá. Fiquei divagando em idéias sem pé nem cabeça, até me deparar com a cena mais fantástica de minha vida.
Uma luz laranja passeava subindo por entre as árvores e piscava em uma freqüência que incomodava os olhos. Por trás da mangueira surgiu um vulto grande no céu. Uma sombra enorme e acompanhada de pequenos ruídos semelhantes a silvos de cigarra, só que eram mais agudos, limpos e breves, quase imperceptíveis, mas sincronizados com a luz. Tentei melhorar a visão pondo meus óculos, o que não adiantou. A visão do objeto era a mesma. Eu estava a aproximadamente uns cem metros de distância, quando notei que a forma da “sombra” era piramidal de base e teto quadrangulares, totalmente transparente. Faltava o ápice. Vi que movimentava-se lentamente e em círculos incompletos, girando ora para a direita, ora para a esquerda em seu eixo longitudinal, alternadamente.
Quis me esconder com medo, mas não tive tempo e julguei não ser necessário, pois a luz que estava sendo sugada, apagou-se e uma escuridão se fez no bairro inteiro, pois não via nada além das estrelas que pontilhavam o céu. Curiosamente eu continuava vendo a “sombra” e através dela as estrelas. Cruzou toda a extensão da rua. Calculei que tivesse uns duzentos metros. Cada quadra tem dez lotes de vinte metros de frente, logo.... Ela ocupava a quadra inteira e depois da terceira quadra não mais a vi.
Procurei com os olhos mais uma vez a presença de mais alguém na vizinhança e nada. Não encontrei viva alma. Então, silenciosamente, voltei a fotografar as flores da noite.

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Pedido atendido?!?!?!

Há uma certa desconfiança que me ronda. Não saberei explicar o que é, mas está lá no âmago das minhas inquietações. Os meus instintos tentam uma comunicação com minha ignorância consciente e desistem; eu sinto isso. O que fazer? Nada. Não há o que fazer. Apenas esperar e depois dizer: eu sabia que algo não ia bem, só não sabia o que era.
Bem, agora que já disse isso, sinto-me um pouco mais leve, porque saberei, lá na frente, no futuro, que pressenti o que não sabia. E se nada acontecer, terei esquecido. Então ficará o dito pelo “não feito”, pelo “não acontecido”, enfim, pelo dito, apenas.
Como sou um bom amigo, aí está a prova de que minha inspiração não anda boa. Os estímulos até chegam, mas as idéias não coadunam, não saem em harmonia; antes, se perdem em mal fadados lampejos, incoerentes, insanos, medíocres, menos ainda, pequenos, ínfimos mesmo. Sei, não era isso que você pedia, era? Claro que não. O que você queria era uma obra-prima: um conto, uma novela, um poema ou um romance - esse eu sei que você queria, e como queria. Mas eu só posso dar o que sou e tenho. Sou medíocre e é isso que tenho agora: coisas medianas. Assumo. Quer saber? Não tenho qualquer tipo de pretensão de ser diferente. Aliás, gosto de ser como sou e de ter o pouco que tenho. E, blá, blá, blá, blá...
As idéias? O que tem as idéias? Meros argumentos que mantêm a ligação, e ponto. Cheguei a essa conclusão só, sem ajuda. Viu como sou esperto? Não, não sou mesmo, é verdade.
Posso te ofertar uma flor? Aceita, é virtual, não tem perfume e nem espinhos. Não, não sei seu nome. Mas sua beleza é paupável, de tão densa que é.
Mais uma coisa: onde moram suas verdades?

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Sou Homem!

                                                              Essa é a Mel dando língua...!
Este texto vai para aqueles que se acham no direito de agredir, porque “sua causa” é a melhor e maior do mundo. É mesmo? Quem disse que eu tenho que ser solidário com essa ou aquela causa? Sou livre e sei muito bem defender aquilo em que acredito, sem contudo, tentar impor qualquer conduta que seja minha a quem quer que seja. Mas, minha opinião, essa sempre darei quando solicitada e oportuna. E mais, toda vez que alguém se opuser às minhas idéias, debateremos em um ambiente saudável e igualitário, não demagogo, mas democrático, sim. Mas, se não for possível, será em qualquer lugar.
Estou publicamente taxado de preconceituoso, por ter comentado em um blog amigo sobre minha posição quanto a salvar pessoas, seres humanos prioritariamente, sem me preocupar, portanto, que tipo de seres humanos são esses.
Quando alguém diz que “muita gente ajuda ser humano, a minoria se preocupa com os outros seres vivos”, mostra uma tendência à demagogia, pondo o ser humano em segundo plano. Veja, conduz opiniões de pessoas contra pessoas. Isso, já denota um desvio digno de análise psicossocial e psiquiátrica, portanto. Comigo não!

Gente ajudando gente é algo para se comemorar e não para se condenar.

Ziggy e um humano!
Priorizar, quer dizer dar um valor maior a alguma coisa ou alguém, em relação a outra coisa ou alguém. Quer dizer que elas têm valores diferentes. Acorda, tem gente morrendo. Sabia? Não, não deve saber. Se sabe, não liga, não é? Afinal, na sua concepção bicho vem primeiro. Isso sim, se não é falso moralismo, é demência mesmo.
Para mim, basta que sejam da minha espécie, seres humanos, para eu me preocupar. Sou livre de quase todos os preconceitos para com minha espécie. Eu disse quase, posto que não sou e não pretendo ser perfeito, mas idiota a ponto de querer salvar bicho em vez de gente, deixo para quem se habilite.
Desconfio de quem renega a própria espécie. Mas, como minha caminhada não começou a um segundo atrás, posso defender meus pontos de vistas, com tranqüilidade, segurança e muita calma que esta me confere. Calma é o que recomendo a quem quer ser diferente sendo igual. Não há muita coisa nova em se defender outras espécies. Há muitos casos na história da humanidade. O que é novo é a forma com que alguns se valem para conseguirem seu intento.

 Petit, o pequinez mestiço, muito bem, dentro de suas possibilidades, obrigado!
Se você me conhecesse, nobelíssimo(a) defensor(a) dos animais, saberia que se estou postando esta mensagem agora é porque tenho um mestiço de pequinez, o qual nos foi - a mim e à minha família - entregue para que cuidássemos do seu viver há dezesseis anos e só foi entregue porque éramos nós, eu e minha família. Hoje, com essa idade - quem tem, gosta e cuida, sabe - ele está cego dos dois olhos, com as patas traseiras quase sem sustentação, não tem mais um de seus mais nobres sentidos, o olfato e, se não bastasse, trocou o dia pela noite. Só estarei livre para dormir por volta das quatro e meia da manhã. Bem, o fato é que estou aqui com um sentimento bem humano em relação a você, mas poderia também ser animalesco para te agradar, o que não quero em momento algum de minha existência, por não confiar em você e em quem assim age. Além disso, senhor(a), saiba que tenho dois poodles, um casal, rejeitado por vários donos, até chegarem às nossas vidas. Mas, afirmo que se tiver que optar pela vida de um ser humano em detrimento da de um animal, optarei pela do ser humano, com todos os defeitos e qualidades inerentes a cada um de nós, seres humanos.
Reitero que não condeno quem quer agir e age diferente, faça o que bem entender o seu senso. Mas às minhas custas, não. Faça com o seu dinheiro como bem disse. Tudo bem.
Portanto, se você se acha no direito de agredir quem você nem ao menos tem idéia de quem seja, sugiro repensar seus preconceitos e “valores tão nobres”, os quais julga ter. Digo isso porque seu senso de julgamento é no mínimo tendencioso.
Defenderei, sim, os animais, até o fim dos meus dias. Contudo, priorizarei os seres humanos até um dia depois disso. E farei isso publicamente, sempre.
Então, não venha posar de "politicamente correto(a)" e "ofendido(a)". Cresça e tire algum proveito desse texto, pois esse é para você, o comentário no blog amigo não era e não é.

domingo, 23 de novembro de 2008

Olho torto!


A rua era torta.
A vida era torta.
Tudo era torto.
Até descobrir que seu olho é que era torto.

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Uma lágrima!

flor de maracujá/passion flower

A vida acena
Ao pensamento certo
Pela porta aberta
De um ato incerto.

A montanha não se moveu.
O dia escureceu.
Um raio correu no céu.
A água escorreu.

A terra exalou seu cheiro.
O ar o conduziu.
O sabiá laranjeira também sentiu,
E da disputa cantou o canto.

Como secar essa lágrima,
Se ela não desce?
Como sanar a mente se o coração mente?
Como prosseguir se não há mais trilha?

A orquídea floresce porque encontra o tronco amigo,
Aproveite a primavera e abre o seu melhor sorriso.
Há mágica no olhar que vê da vida o colorido.
Há em você um enigma delicioso.

Que desperta, aguça e aviva a curiosidade.
Será que não estou olhando certo?
Será que é mais simples do que imagino?
Ou será a solidão que afeta os sentidos?

Não, não falo de mim.
E nem de você.
Falo daqueles que por um motivo seu, próprio
Deixaram de existir, trancaram a porta que estava aberta e jogaram a chave fora.

Não conseguem ver ou sentir.
E a lágrima não desce.
Antes seca e o desespero recomeça.
Olhe o dia.

Procure um espelho e veja você.
Seu viço, sua alma e sua vontade.
Acredite, ela está dentro de você.
Ela é você o tempo todo.



Com o vento!

A foto foi extraídaa do site: http://br.geocities.com/vulcoes/Fetna.htm

Vou seguir com o vento.
Entrar em cada fresta de muro e derrubar barreiras
Vou te buscar nas entranhas mais secretas.
Vou seguir com o vento
Acariciar teus cabelos e sussurrar ao teu ouvido.
Vou pensar que por um momento somos únicos.
Vou seguir com o vento
Povoar os desertos e as montanhas
Soprar as superfícies dos rios.
Vou seguir com o vento
Chegar aos pólos e depois
Penetrar os vulcões.
Vou seguir com o vento
Voltar pra casa
E começar tudo de novo!

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

A estrada ou o caminho?


Uma estrada foi aberta.
O caminhante a usou.
Fez nela seu caminho e desbravou
Seu destino e sua busca incerta.

Olhou horizontes e muitos viu.
Olhou nuvens e em algumas até se molhou.
Olhou o céu e quase sorriu.
Por fim, perdeu-se em atalhos e não mais voltou.

Boa viagem, errante caminhante!!!

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Vício!

Era cedo.
Era tarde.
Éramos todos.
Era agora.
Era amanhã.
Éramos perdidos.
Era de mentira.
Era virtual.
Éramos, sem ao menos termos sido.
Era agonizante.
Era mórbido.
Éramos doentios.
Era um vício.

sábado, 8 de novembro de 2008

O que pensar?


Ontem, depois da habitual pelada de sexta-feira, reunimo-nos para a cervejinha e o bate-papo descontraído ziguezagueando os assuntos.

Até que alguém chamou a atenção para o que o Almir relatava. O zunzunzum foi diminuindo e então pudemos todos ouvir um episódio da história de vida do colega, o qual me autorizou a contá-la.

Em mil novecentos e setenta e um, o Almir, ainda um garoto, cursava a escola militar em Guaratinguetá, cidade do Vale do Paraíba, do Frei Galvão, no Estado de São Paulo. Era sábado, ele deixou a escola e saiu para a cidade. Todos fazíamos isso. Era nosso divertimento e momento de sociabilizarmo-nos. Esquecer um pouco do rigor e regras, demais, às quais estávamos afetos para a formação militar. Lá chegando, conheceu uma jovem de nome Isabel, por quem se encantou e, correspondido, passou a um namorico de fim de semana, tudo normal.

No domingo, o Almir, depois de conversarem muito e namorarem mais ainda, e por ter que voltar para a escola, resolveu levar a moça em casa. Estranhou que ela não quisesse e até relutasse contra isso. Insistiu e ela concordou, desde que a deixasse próximo a casa. Acordo feito, seguiram rumo ao endereço da moça. Beijos mil marcaram aquela despedida e ambos concordaram em se encontrar na sexta-feira seguinte. Almir observou ela se afastar e abrir o portão, entrar na casa e sumir ao cerrar-se a porta. Missão cumprida, retomou o caminho de volta à escola.

A semana parecia ter mil anos, não passava. A ansiedade própria da idade imprimia um sofrimento sem fim ao apaixonado Almir. Mas, como tudo tem um fim, aquele martírio também acabou na sexta-feira. Nova liberação. Destino certo ao ponto de encontro marcado com a Isabel, foi.

Lá a ansiedade era por vê-la, tocá-la, beijá-la. Enfim, namorar e tudo que isso significasse.




Sentado, viu os minutos, as horas e sua paciência se esgotarem, sem que a Isabel aparecesse. Frustrado, voltou para a escola. No dia seguinte fez a mesma coisa e nada de Isabel aparecer. Pensou em ir até sua casa e encontrar uma resposta ao cano. Desistiu, pois poderia haver um pai bravo ou um irmão mais velho e pouco sociável.
O domingo foi cheio de dúvidas e receios. Mas, o Almir perseverou. Nada. Isabel parecia simplesmente ter-se esquecido dele. Talvez não tenha significado coisa alguma aquele encontro e ele menos ainda; pensou. Como ela pode tê-lo feito acreditar em um encontro casual, mas promissor, e depois não aparecer, matando suas esperanças no amor? Não, isso não ficaria assim.
Decidido, encaminhou-se ao lugar onde a deixara: sua casa. Lá chegando, anunciou-se com palmas no portão. Apareceu uma senhora. Indagada sobre ali ser a casa de Isabel, a senhora confirmou e o convidou a entrar.
Animado, aceitou o convite. Uma vez no interior da casa, Almir, sentado confortavelmente num sofá, foi interrogado pela senhora, com um álbum de fotografias na mão, sobre quanto tempo se conheciam. Almir contou onde, quando e como haviam se conhecido e sobre o encontro marcado e não acontecido.
Ela entregou-lhe o álbum e perguntou:
- Moço, você pode apontar para mim qual dessas moças é a Isabel?
-Claro que sim. Respondeu apontando para a foto da linda Isabel.
A senhora disse que ele estava certo, que aquela era sua filha Isabel. Mas que eles não poderiam ter-se encontrado. Não no fim de semana passado, porque Isabel havia morrido há oito anos. Almir, assustado, ainda argumentou que não era louco e que namoraram.
A mãe, então, contou sobre Isabel. Disse que ela morreu sem ter concretizado um sonho que levou para o túmulo. Ter namorado um rapaz da Escola de Especialistas da Aeronáutica.

Sem estar completamente refeito da experiência, Almir voltou para a escola e nunca mais soube da Isabel ou sua mãe.
Ontem, confessou que recentemente retornou a Guaratinguetá com sua família, procurou sem sucesso o endereço que tinha na memória. Mas que até hoje não consegue entender o que e como aquilo aconteceu.

sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Elvis morreu!


É verdade, aconteceu de anteontem pra ontem. Pela manhã tivemos a constatação. Uma grande tristeza acometeu a família. Elvis, o grande Elvis. Cantor fenomenal, impunha seu canto madrugada adentro, sem contudo, ser um boêmio. Mas, como gostava mesmo de cantar, cantava nas madrugadas. Claro que eu senti mais sua morte. Fui eu seu fã número um. Lembro-me bem da primeira vez que o vimos. Imponente e garboso com sua indumentária natural caminhava na alameda que ligava a casa ao pomar, próximo às jabuticabeiras. Não se incomodou com nossa presença, apenas dignou-se a nos olhar e, eu diria, desdenhoso continuou sua caminhada em passo de duque, todo engalanado com destino a uma possível festa da nobreza. Colhemos muitas jabuticabas e nos despedimos da tia de minha mulher; mas aquela imagem não me saía da mente. Não sabíamos seu nome e nem por que estava lá. O fato é que marcou sua presença junto a nós, principalmente junto a mim. Saímos pelo estúdio.

Algum tempo se passou até que voltássemos ao cenário que nos apresentou, mesmo que só visualmente. Dessa vez o Jarbas, marido da tia de minha esposa, percebeu sua aproximação e o tocou carinhosamente. Pensei: caramba, ele é amigável e se dá bem com o Jarbas, afinal é só pose que ele tem, é de carne e ossos como todo vivente. O Jarbas me confidenciou que o tratamento entre eles tinha sido daquele modo desde sempre. Admirei.

Depois daquela demonstração de boa convivência, passei a admirá-lo e observar suas atitudes. Passava o dia vagando no pomar e ao anoitecer dirigia-se a casa e permitia-se um repouso. Era sua rotina diária. Acordava cedo. Cantava suas canções. Saía em direção ao estúdio e só voltava à noite, para então ocupar seus aposentos. Um ciclo de vida simples, mas repleto de namoradas, umas quinze. Todas muito lindas também, como ele. Assim era o Elvis.

Nossa vida tomou rumos que só nos permitiu um reencontro depois de alguns meses. Perguntei à tia de minha esposa se poderíamos levá-lo para nossa casa. Surpreso, recebi seu consentimento. Estava decidido: agora mudaríamos sua rotina, interferiríamos diretamente em sua vida programada. O estúdio, ele deixaria para trás. O vasto pomar, talvez só na lembrança. Afinal, nossa casa não dispunha de uma área tão grande quanto aquela, mas não era pequena e até tinha e tem mangueiras, jabuticabas, tangerina, acerola, enfim, um pequeno pomar. As namoradas, sim, essas não poderiam faltar e era até por esse motivo que já estávamos mudando sua vida. Só que não seriam mais as mesmas, arranjamos apenas três, novas e de diferentes origens, mas todas muito bonitas e não pareciam descontentes com a atual proposta. Pensamos que seriam do seu agrado. Não erramos. Ele se mostrou bastante entusiasmado, apesar de meio preocupado com a nova morada; notei. Outra mudança significativa foi nos aposentos. Agora sua rotina seria um pouco diferente, moraria fora de casa e teria que se arranjar, por enquanto, como pudesse com suas companheiras. Ele estava frente ao primeiro desafio: constituir uma família e em terras desconhecidas. É bem verdade que não seriam por muito tempo, era apenas uma questão de dias e tudo se arranjaria, estaria adaptado. Das três, a Carolina – homenagem à sobrinha Carol – foi a mais atrevida, deixou-se encantar por ele e logo estariam em namoricos fortuitos. A Pretinha deixou-se abater por ele e não o largava, estava sempre ao seu redor. A Branquinha, totalmente submissa aos seus caprichos, dormia aninhada a ele todas as noites. Definitivamente ele estava bem.

Depois de alguns dias vendo-os dormindo em condições não muito condizentes com sua estirpe, construí algo, que na minha concepção, assemelha-se a um palácio. Lá os alojei com alguma oposição de sua parte e da Branquinha. Acho até que por insistência dela, pois onde estavam, eles gozavam de alguma privacidade e pequenas regalias, apesar de ser ao relento, pobre Elvis. Ok, tudo bem, foi por pouco tempo mesmo.
Nesse “palácio”, Elvis, Branquinha, Pretinha e Carolina tiveram muitos descendentes.

Viviam felizes, até ontem.

Às seis horas da manhã, Salete dirigiu-se ao quintal anexo de nossa casa e serviu um, digamos, “café da manhã”, aos “hóspedes”. Notou, sem se preocupar, a ausência do Elvis. Eu levantei-me às sete e vinte e estava tomando café, quando ouvi a insistência da Salete a me chamar. Pensei, meio chateado, que não era hora de chamados insistentes naquele momento. Cedi e respondi ao seu chamado saindo à porta da cozinha. Nesse exato momento, minha mãe, que passa uns dias conosco, também saiu e deparamos com a Salete já despejando a notícia em nossas caras mal lavadas, a minha pelo menos, e explicando a ausência dele devido à sua morte misteriosa.

Aquela notícia pegou-me na pior hora do dia (qualquer hora entre cinco e nove horas é a pior hora do dia para mim, agora e sempre). Mas tudo parecia ter perdido a graça, afinal era o Elvis, parceirão. Ficamos tão amigos, que até pegá-lo e acariciá-lo eu fazia. E, agora lá estava ele estendido, duro e frio com algumas formigas se encarregando de começar o processo natural de limpeza e abastecimento de víveres, seus, claro.





Calcei minhas luvas de borracha e o peguei solenemente. Conduzi seu corpo até a cova que acabara de preparar e o depositei. Confesso que com o espírito abatido e tomado por um sentimento de profundo pesar. Ali estava o fim de Elvis, o galo retirado de um ovo e criado dentro de casa pela tia de minha esposa e dado a nós por confiar que jamais o comeríamos. Não o fizemos, mas até agora, no momento em que escrevo, não tive coragem de dar-lhes a notícia do passamento de Elvis. Até a Salete, vítima de suas investidas quando ela se aproximava do galinheiro para retirar seus descendentes (ovos), sentiu sua morte. Acreditem, Elvis morreu entre os dias vinte e nove e trinta de outubro de dois mil e oito. Nenhum jornal, rádio ou televisão noticiou.
Ainda bem que hoje em dia há a internet.



Our last Good-bye. Rest in peace, great Elvis!

domingo, 26 de outubro de 2008

Quando penso em você!


Um nó só.
Uma búlica e as bolinhas de gude mal jogadas.
Com vontade de ficar, tendo que partir.
Tudo embolado num balaio de bambu.

O meu tesouro sou eu.
Descoberto, estou nu,
E sem o menor problema,
Afinal, nasci assim.

Vejo inteligência na árvore que cresce um galho pra se equilibrar.
Vejo ignorância em muitas atitudes minhas,
Frutos de minha domesticação.
Ou será apenas sobrevivência? Não sei.

Para matar o enigma do bicho,

Corro pouco; ando mais.
Juro que não fui eu,
Mas entendi rápido.

Se tiver que eleger um poeta:
O boca do inferno.
Para lhe fazer justiça,
E se ele estivesse aqui, agora.

Será que troçaria hoje, soaria pelos vales dos edifícios?
Correria ou andaria pelas alcovas?
Sentaria em um boteco e observaria atônito que nada mudou?
Para, então, falar em voz de megafone quem é o rei.

Viu a confusão mental em que me envolvo quando penso em você?
Ouviu? Pelo menos leu?
Não? Que pena, hein!

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Seria, mesmo, culpa da parteira?


Alguns anos de formado e alguma prática odontológica levada a sério. Muita dedicação e estudo creditaram-me boa reputação junto a alguns colegas de profissão. Isso era muito reconfortante, gratificante e mais alguns “ante”.

Até que enfrentei o meu primeiro desafio perante um cliente. Era um homem jovem. Um camarada bem extrovertido, brincalhão, bem-humorado mesmo. Foi indicado por uma colega para uma cirurgia de siso, coisa comum em consultório, mas que exige, como todos os procedimentos, muita atenção, dedicação e planejamento.

Feita a anamnese, o paciente foi instruído a fazer exames radiográficos para localização do dente retido e incluso- é assim que nos referimos aos tais sisos- para se finalizar o planejamento e marcar a data da tal cirurgia.

Passado o tempo normal e previsto para a entrega dos exames, ele os trouxe. Discutimos a melhor data, fiz algumas recomendações de praxe por escrito e nos encontramos no dia da cirurgia, uns dez dias mais tarde. Perguntei se estava tudo bem, se havia tomado o medicamento prescrito, se estava decidido e se poderíamos começar os trabalhos. Respondeu que sim, que o quanto antes acabássemos melhor seria. Concordei e comecei a prepará-lo.


Uma piadinha sem graça aqui, outra ali (isso é o que melhor um dentista faz), e fomos progredindo até chegar ao ponto de anestesiá-lo. Feita a anestesia e a incisão, a divulsão dos tecidos moles: gengiva e mucosa adjacente, cheguei ao osso e comecei a removê-lo para acessar o dente e começar a retirá-lo. Até aí tudo normal.

Bem, nem tanto. O paciente começou a se mexer demais, o que me causou uma certa preocupação. Mas pensei tratar-se de uma “dorzinha” ou um incômodo por sentir-se invadido na sua intimidade. Não era, ele insistiu nos movimentos e levantou a mão. Nessa hora eu comecei a parar e já fui emendando:
- Oi, fulano, está doendo? Agüenta um pouquinho, já estou quase acabando, só falta segmentá-lo e pronto. Tá fácil, já vai sair.


Agora livre das minhas cem mãos dentro de sua boca, pôde se expressar com tranqüilidade, dizendo o que o inquietava tanto:
- Sabe o que é “doutor”, não está doendo não, mas é que o senhor está com o dedo no meu olho e....

Sem deixar que ele terminasse o que iria dizer, imediatamente me desculpei e completei dizendo que não era raro isso acontecer. Isso, porque nos concentrávamos no ponto interno e acabávamos penalizando a face e seus órgãos. Aí veio o pior. Eu lhe pedi que tivesse um pouco de calma, pois tudo se resolveria rápido e que eu teria mais atenção, sem enfiar o dedo em seu olho.

Pensei com isso ter resolvido a questão, quando ele me saiu com a seguinte explicação:
- Não é isso “doutor”. É que eu fiz um transplante de córnea por esses dias e o senhor estava pressionando exatamente esse olho.


Gelei. E não contive minha irritação. Aleguei que havia lhe perguntado sobre as possíveis cirurgias já feitas e se tinha alguma próxima à data dessa em curso. Afinal, uma cirurgia de siso não pode ser prioritária em relação a uma tão importante quanto uma de transplante de córnea.


Ele muito tranqüilo me disse que estava tudo bem e que poderia continuar. Eu já meio desorientado, mas sem poder parar àquela altura, continuei. A mente não parou de processar os acontecimentos, então soltei essa pérola:
- Sabe, fulano, você me desculpe mesmo. Mas é o seguinte, você pode até xingar a minha mãe, ok?
Ele acenou, pedindo para eu parar de novo. Parei e ele prosseguiu:
- Não “doutor”, nada disso. Sua mãe até que é gente boa, quem não presta é a parteira que deixou o senhor vir ao mundo.

Tive várias vontades inconfessáveis. Mas, fiz a única coisa certa e possível naquela situação: sorri, sorrimos todos; e concordei.


Só não consigo entender como ele sabia que eu tinha vindo ao mundo pelas mãos de uma parteira. Uma parteira não; a parteira. Minha tia e depois madrinha, Maria de Lourdes Alves Lemucchi. Penso mesmo que ela era uma fada, e das boas.

O dente? Tirei sim.

O paciente? Depois que removi a sutura, nunca mais soube dele.

terça-feira, 14 de outubro de 2008

Qual o sabor do amor?



O amor estava solto e passeava pelo ar.
Eu nem sequer sabia que ele tinha esse poder.
Mas tem.

Primeiro senti seu cheiro; mesmo sem saber de onde, senti.
Deslizou suave por meus neurônios, atacou minhas sinapses.
Penetrou fundo no meu ser.
Senti seu sabor indefinido. Amorfo? Definitivamente, não.

Depois eu o vi.

Não sei como, mas vi nitidamente.
Atingiu o ponto mais escondido de minha vontade e me fez cativo.
Algo mudou em mim, não sei bem o quê, mas mudou.

Agora já sinto a presença do que me despertou a alma.

A consciência de que a vida está além de mim, apesar de mim.
Descuido, talvez, dos sentidos alerta.
Ensinados a saber o óbvio, bem treinados na arte do esquecer, do não sentir despreocupado.

Onde estava meu instinto,
Químico amor?
Atacou minha juventude sem piedade, com crueldade até.
E depois com crueldade maior ainda me deixar sem chão, sem rumo, céu sem estrelas, sem farol, nau desgovernada de encontro aos rochedos.
Tempestade tropical, ciclones caribenhos a arrebatar o que sobrou de mim, dessa memória.

Misto de ódio e bálsamo que alivia e atormenta.
E o que eu faço com todo esse amor aprendido e apreendido,
Tão suavemente imposto?
Será que ele não sabe de que matéria sou feito?
Esse tal amor é estranho mesmo.
Começo a pensar que, amor personificado, não tem sentimento.
Ora, que paradoxo é esse?

É a essência.

É a vida real em choque com a idealizada.
Talvez unilateral. Talvez desiludida.
Talvez só a vida, sem limites ou conceitos e menos ainda preconceitos.
Sem qualquer antítese programada.
Sem amarras ou correntes para serem arrastadas em noite de lua cheia, assombrando os ainda não iniciados.
Um vício psicossomático sem cura. Graças!
Doce, salgado, amaro amor?

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

A imagem!!!


Ela se via e só.
Por mais que quisesse estar acompanhada,
Acabava olhando para si mesma e isso lhe bastava.
O Sol era seu cúmplice.
Por isso brilhava.
Sem ele nada acontecia, ela não acontecia.
Mas, um dia ela se deu conta de que não era senão a projeção
De uma imagem desenhada, bem desenhada no espelho
Não bastaram os sorrisos e os amigos, muitos eles eram.
Mas ela se via só.
Como se bastava, nada precisava.
A não ser do Sol.
Isso ela sabia, e assim vivia, só.
Com a presença do Sol.
Ninguém ousava lhe falar de outras estrelas, de maior grandeza.
Pois o Sol era o seu grande interesse vital.
E era.
Outro dia chegou, como tudo, em seu ciclo
Viu-se uma vez mais e sem se dar qualquer explicação sumiu.
O espelho se quebrou!
Ela reapareceu com luz própria e despida de qualquer lembrança.
Os amigos não a reconheceram, mas se apaixonaram pelo que viram.
Saiu pra olhar.
Descobriu a Lua, um satélite, e muitas, muitas estrelas.
Se emocionou.
Chorou,
Lágrimas desceram suaves por sua face.
Sentiu o sal tocar sua língua.
Descobriu o sabor.
Sorriu!
Não mais se importou que aparência tinha.
Era outra mesmo.
Ensaiou um blues,
Mas dançou mesmo foi ao som frenético de um frevo pernambucano.
Despertou com força pra vida e nunca mais sentiu falta de sua imagem
Refletida, bem desenhada no espelho.
Simples assim!

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Quase vinte e oito anos!!!


Que eu não sou muito convencional, isso quem me conhece sabe bem. Meio sem pavio, falo o que penso nas horas em que me calar talvez fosse uma melhor estratégia. Mas, concordo com a Paula Barros, tem hora que certas falas não coadunam com a verdade, e se eu me calar, é como se me arrancassem a alma, a própria vida e aí eu estaria avalizando a imbecilidade, a minha própria, por nada fazer, nem ao menos tentar.

É com esse comportamento, que não sei distinguir se é sentimento situacional ou demência mesmo, que tenho sobrevivido esses quarenta e nove anos.

Bem, mas quero falar mesmo é dos tais quase vinte e oito anos. Casei-me com uma mulher metade japonesa, um quarto brasileira e um quarto italiana. Amor à primeira vista, desses que se não emplacar o cara fica metade pelo resto da vida.
Emplacou. Tem havido altos e baixos, tempestades tropicais e subtropicais, nevascas, ciclones e “otras cositas más” em nossas vidas, mas temos sobrevivido com alguma dignidade, ainda.

Sou meio racional, digo meio porque não consigo planejar. E só porque planejei tenho que matar a emoção. É um problema isso. Se intuo o contrário, mudo de rumo rapidinho e o combinado já não vale mais. Acho que é instinto de sobrevivência o nome disso, é assim que entendo.

Bem, casamos. Ela com seus cinco meses de gravidez, dezessete anos. Cheia de orgulho e vazia de experiência. Eu, do alto dos meus vinte e um anos era totalmente imaturo, um menino. Tudo acertado pelas circunstâncias para culminar com um tremendo caos. Crianças sem juízo.

Não há senso em começar assim e continuar caminhando achando que as coisas se acertam por si só. Mas, acreditem ou não, tem sido assim. Está dando certo. Claro que a paciência e tolerância orientais são o que faz o fiel da balança manter-se equilibrado.

Mas aquela gravidez continuava em curso. E aí é comum planejar e buscar nomes, idealizar sonhos e tudo que, quem já passou ou passa, sabe como é. A escolha do nome é coisa séria, pensávamos. Então, vamos escolher o nome. Depois de passar por várias opções, empacamos em dois deles: Mayara e Talita. Que dificuldade. Chegamos à conclusão que Talita era o nome. Acertamos, fizemos juras disso e daquilo, mas o nome estava decidido, já não era um problema.

Dia treze de outubro de mil novecentos e oitenta. O dia D-1. Noite de primavera, muita chuva no cerrado. Muito sono. Muita dor e uma mulher tentando dizer que algo não estava bem. O sono era pesado demais. O medo e a insegurança mais ainda.
- Dorme, dorme que isso passa logo. Não passava. E não passou.
Pela manhã, dia D, portanto, visita ao médico. Veio a constatação óbvia: você está em trabalho de parto. Vamos para o hospital que já vai romper a bolsa.
Fomos. E não é que o médico estava certo. Algumas horas depois nascia uma menina com dois probleminhas, segundo o pediatra. Bem, pais e mães sabem o que isso significa. Quase desabei, mas perguntei:
- Doutor quais são os probleminhas?
Ele:
- Nasceu sem dentes e careca.
Quase dei nele, mas relaxei e sorri. Era um brincalhão o Dr. Leles, ex-controlador de tráfego aéreo, também.

Ora, ora, então estava tudo bem. A criança bem, a mãe estava ótima, cabia a mim correr ao cartório e registrar a herdeira do reino do nada. Fiz meu papel direitinho. Registrei a menina. Agora tinha nome. Voei para o hospital, não antes de ligar para os amigos distantes, parentes próximos e falar de minha, de nossa alegria. Cheguei ao hospital e já fui mandando:
- Aí, registrei a menina, Salete.
Salete:
- Que bom. Botou o nome de Talita, como combinado?
Gelei. Sabia que tinha algo estranho, pois o nome não fechava bem aos ouvidos. Acho que com ar de surpreso, respondi perguntando:
- Era Talita que a gente tinha combinado?
Ela, a Salete:
- E não foi o nome escolhido, Tadeu?
Eu, com ar mais surpreso ainda:
- Ué, eu achei que era Mayara. Era Talita? Tem certeza?
Ela:
- Claro que tenho. Você registrou como Mayara?
Eu:
- É, botei Mayara. Fiz besteira, né?
A mãe:
- Não, tudo bem. Tanto faz, o importante é que está tudo bem, ela está bem, eu estou bem e amanhã saio daqui.
Calado, assenti com a cabeça concordando.


Mayara!
Dia quatorze de outubro de mil novecentos e oitenta, o dia em que eu saí do chão e andei nas nuvens pela primeira vez. Depois andei mais algumas vezes, mas isso já é outra prosa.





Quais os preços da modernidade?

Eu tenho a impressão de que ainda não me dei conta totalmente do que signifique ter um celular. É verdade.

Sábado, depois de deixar meu filho no trabalho, notei que havia esquecido a caixinha de voz em casa. Até aí, dirão: tudo bem, nada de novo. Mas, após essa constatação, tive a certeza de ter perdido um membro: um braço, quem sabe uma perna. Foi aí que caiu a ficha (não resisti ao trocadilho, apesar de orelhão já está quase extinto do nosso universo, penso): algumas coisas entram em nossas vidas e se integram de tal forma, que já não existimos completamente sem elas. Esse é o caso do tal telefone celular. Juro que relutei até onde pude, mas acabei me rendendo por um apelo profissional. Perdi aí minha privacidade e algo mais que não sei bem o que é, ainda.

Podem me chamar de antiquado, retrógrado e quantos qualificativos tiverem à mão, mas a sensação de perda por ter um celular é maior do que a de poder que a modernidade me dá. Essa história de falar a qualquer tempo não me seduz mais. Portanto, só isso já bastaria para por fim ao meu bendito celular, o que seria outra estupidez (a primeira foi ceder ao apelo de tê-lo).

Imagino que há pessoas que ao saírem de casa, façam um “checklist”:

documentos: ok;
chaves do carro: ok;
óculos: ok; e...
Parece que é só, mas essa impressão de que estou esquecendo algo não cessa. O que será? Não consigo me lembrar do que seja. Ah, o mais importante, o celular!
Ele chama a companheira:
- Meu bem, por favor, pegue o celular pra mim. Não sei onde estou com a cabeça. Esquecer logo o celular.
Ela atendendo à solicitação:
-Nossa, você enlouqueceu? Onde já se viu andar sem o celular. Só você mesmo. Ainda bem que se lembrou antes de sair. Aqui, toma, vê se não esquece mais.
Para algumas pessoas nem é um objeto, é antes um lugar: Não, ele não está em casa, não. Mas liga pra ele, ele está no celular.

É, e assim vamos nos modernizando, encurtando as distâncias, ganhando tempo e aquecendo o cérebro até virar pipoca. Juro! Vi um filme no “youtube”. Mas já há vários desmentidos a respeito. Não se pode confiar. E eu nem tentei a experiência. Esqueçamos o filme do ‘youtube’!
Mas, lembremo-nos da pergunta da sábia Vivian: "você questiona o que lê, ou vai acreditando a esmo?".

Aqui é aqui mesmo!!!

clique na imagem para vê-la ampliada!

De volta ao empirismo?
Ou será apenas uma carência formal da educação?

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Você, Maria Clara!!!


Eu bebi da fonte clara e transparente.
A luz cortava o ar, batia na água e refletia todas as cores do arco-íris.
Eu olhei o céu e vi um anjo passando, voando sereno.
A clara luz o iluminou!

Seria ele a própria luz?
Ou seria a luz o próprio anjo?
Talvez um anjo de luz.

Não sei a resposta.
Talvez o anjo queira esclarecer, clarear,
Sorrir e chorar um pouco sua quase humanidade.
Seu olhar enigmático!

Como posso entender a forma perfeita com minha visão imperfeita?
Também não tenho olhar interior que me possa ajudar.
Talvez o anjo o queira,
Com sua simplicidade e objetividade angelical.

Mas também, não sei como perguntar a um anjo.
Só os vejo, por aí,
Em uma comunicação surda e muda, apenas visual,
Lindamente visual!

Vi o que o anjo produziu.
Telas lindas, vivas e falantes.
Mas que se calaram diante de não sei o quê.
Talvez o anjo saiba.

Pena eu não saber a língua dos anjos.
Sabe, eu apenas os vejo, lindos, a voar e brincar.
Já não sei se sou capaz de voar também.
Talvez pudesse, se tentasse, quem sabe?

Será que alguém ainda se lembra de como fazê-lo?
De como era bom ter o vento soprando forte contra o rosto?

Ah, há os sonhos que tentam resgatar a condição perdida.
Mas sempre fica a sensação de que eram apenas sonhos.
Uma angústia por saber não poder mais.
Uma ansiedade torturante em quase conseguir não voltar do sonho!

E voar alto, sem pressa e sem razão para voltar a terra.
Qualquer distância já não faz sentido.
Qualquer desejo já foi realizado.
O que sobra então?

Como reaprender o que nem sei se soube um dia?
Apenas intuo que já estive lá e que guardo uma recordação mal definida.
Será?

sábado, 9 de agosto de 2008

Memória!!!


Gosto de sentir o cheiro do vento.
Gosto de sentir o sabor do vento.
E quando minha memória temporal avista as várias cenas guardadas
Revivo cada momento aberto pela chave do vento.
As maravilhas dispensam no ar seu aroma e despertam o menino perdido nas manhãs de primavera
Vagueando por entre escombros e entulhos abandonados
Tudo cravado em cheiro e cor na minha mente.
Parece que o tempo deixa de existir e é só respirar que a viagem começa
É breve, certo, mas a vida é breve.
Não há dimensionamento possível nesse entendimento.
Há apenas a ligação entre o que foi e o que será sempre só seu.
Não há multidões nem multiversos capazes de criar ou impedir isso.
Mas há um silêncio adimensional criado entre o ser e o tempo/espaço.
Talvez uma lacuna sem forma, mas paradoxalmente definida, no viajante
Ou então, quem sabe, coisas que navegam pela ponte do tempo e nos pegam reféns frágeis, cansados da viagem.
Mas, se hoje sei que navego numa velocidade incapaz de ser mensurada, sei também que não domino sequer a vontade de lá estar.
Sei apenas que o vento é o senhor dessas emoções.
É ele quem dita, sem hora marcada, a viagem da minha vida.

terça-feira, 15 de julho de 2008

Somos queixosos e culpados demais!!!

Hoje recebi uma mensagem de um amigo dos Pampas, que mostrava o péssimo estado em que se encontram algumas, muitas, estradas do norte do Mato Grosso. Como sempre acontece comigo, fiquei indignado. Mas não com o estado de abandono das estradas e dos povos que habitam as regiões que deveriam supostamente ser servidas por essas estradas. Esses mesmos povos que votam e são enganados sempre. Nós não! Fiquei indignado comigo mesmo e com todos quantos se dizem indignados com esse descaso, sem fazer absolutamente nada, a não ser reclamar.

É uma mentira acreditarmos que precisamos de mais estradas e que bons políticos são os que as constroem. Note que eu disse constroem, porque é só isso que eles fazem: construir. Manter o patrimônio público pra quê? É burrice, afinal renderá votos na próxima eleição. Então, nada de manutenção.

Pensamos, pois, que tudo poderia ser diferente se os governos quisessem mantê-las em bom estado. A questão é que o clima transforma o ambiente em vilão implacável, se é que se pode pensar assim, tornando o custo de manutenção altíssimo, servindo de moeda de troca na hora das eleições. Lembra-se da Transamazônica? Lembra ou sabe como está hoje? Pior do que as mostradas na apresentação.

Eu acredito que podemos, se quisermos, acabar com essa matriz safada, a rodoviária, que depreda e torna pobres muitos e muitos brasileiros. Precisamos é de trens e modernos. Temos um país muito grande, com estradas rodoviárias caras demais para serem mantidas e muita carga para ser transportada, a um custo muito alto.



Não é uma questão só de maus políticos, é também falta de vergonha na cara, nossa cara, que estudamos e aprendemos as malandragens, os atalhos e quem faz uso deles. Por isso somos mais culpados do que os que vendem seus votos por uma cesta básica. Esses, em grande número, estão no limiar da sobrevivência ou são bem educados pelo sistema corrupto do qual todos nós fazemos parte.
Há que se fazer algo urgente. Temos que fazer algo urgente, se não quisermos envelhecer vendo tudo pelo que fomos educados para construir, de forma responsável e comprometida com o bem comum, escorrer pelo esgoto que estão preparando para habitarmos.
Um abraço indignado!!!

sexta-feira, 11 de julho de 2008

Alvo, cidadão!!!

O Estado brasileiro cuida muito bem de seus cidadãos, basta atentarmos para a lei anti-cidadão comum, a da bebida e direção. Que irônico!

Combate-se a bebida, mal que atinge milhares de pessoas de forma direta: os que bebem e em conseqüência deste ato, sofrem ou causam danos de toda e qualquer espécie. Por isso acho a lei bastante interessante. É importante coibir e até mesmo proibir o uso de álcool. Nesse caso, dirigido, sem trocadilho, aos motoristas que tenham a intenção de guiar após a ingestão desse líqüido em suas mais variadas apresentações.

O que me causa estranheza é o fato de não se proibir a fabricação da bebida. Sabemos que nós, fracos de vontade, como somos, certamente cairemos em tentação e beberemos. Esqueceremos que não podemos dirigir, então seremos presos. Mas pagaremos por nossa negligência. Daí eu não entender o Estado. Será que ele, preocupado que é com seus cidadãos, não pensou que se fechar os alambiques, cervejarias, destilarias, vinícolas, bares, etc., não haverá como consumir o que não existir. Bem, vê-se que eu não entendo mesmo, porque não há alguém com insanidade bastante para propor algo dessa natureza. Mexer nessa casa de marimbondos.

Agora, que há algo muito estranho, isso há. Quer dizer que o ônus sempre será pago pelo cidadão comum? Este sempre tem a culpa de todos os males que afligem a sociedade. Se lobbies poderosíssimos são formados para alcançarem objetivos de determinado setor ou grupos, a culpa é do eleitor, não é dos políticos que os representam e da lei eleitoral que não permite ao cidadão saber quem se agrupa, paga e manda nos seus destinos e por conseqüência, nos do País. Isso não é importante para o povo na visão desses políticos e de seus patrões. O que importa é manter a ignorância e o paternalismo estatais, para que estejamos todos dominados, como na música: “tá dominado, tá tudo dominado...”.


O alvo certo continua sendo o cidadão comum, pois ele é imóvel. Não sabe se defender, porque espera que o Estado o faça por ele; logo, essa lei é boa, afinal é para o seu bem. Diminuirão as mortes no trânsito, porque as estradas são boas, há poucos caminhões rodando e quando o fazem, o fazem em pequenos trechos. Escoam produtos até as linhas férreas. O trem é o principal meio de transporte no país continente, Brasil.
Ah, não temos trem e as estradas são péssimas, havia-me esquecido disso. Que coisa, hein? E ainda tem-se que pagar preços altíssimos para se manter esses modelos.
Vá entender!